O estudo sobre a memória sempre foi fonte de curiosidade e polêmica. Com o tempo, algumas doenças que se remetem à esse estudo começaram a surgir e receber definições. Entre elas, o Alzheimer. Porém, muito, além disso, e quase que paralelamente, o avanço tecnológico trouxe uma pitada ainda maior de polêmica, já que, para alguns, esse avanço trouxe também, além da benesse, algumas desvantagens para a nossa memória.
A explicação é mais prática do que teórica. Quer ver por quê? Então, responda:
- Qual o número do telefone da sua antiga casa?
- E o número antigo do seu celular, você lembra?
- Afinal, se formos um pouco mais prático, será que você sabe o número do celular da sua namorada, da sua mãe ou do seu irmão?
- E o seu CPF (Cadastro de Pessoa Física), você saber décor?
E quando você precisa saber qual será o próximo feriado, como faz? Provavelmente, entra no calendário do seu celular. Mas, quando o assunto é temperatura e clima… Google! E a estação de metrô mais próxima? Google Maps. Viu uma frase em inglês e não entendeu bulhufas? Então, o Google Tradutor te ajuda. Pizza de Mussarela ou Muçarela? Google Now!
Se você respondeu de forma positiva todas essas questões, saiba que sua memória está muito avançada, ao menos, em comparação com a maior parte dos brasileiros, que não costumam lembrar-se desses números. Essa mudança de hábito, esse não lembrar mais um monte de coisa, faz parte do que os pesquisadores têm chamado de Efeito Google ou para alguns mais extremistas, Amnésia Digital.
Esses termos nada mais são do que sintomas de um comportamento cada vez mais comum, o de confiar todos os armazenamentos de dados importantes em dispositivos eletrônicos e à internet, ao invés de “guarda-los na cabeça”.
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Quanto ao 2º termo – Amnésia Digital – ele é ainda mais polêmico. Para o neurologista Paulo Bertolucci, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ele não convém. “Amnésia é quando esquecemos de algo e na ‘Amnésia Digital’, no entanto, não chegamos nem a aprender, portanto, é impossível esquecer algo que escolheu nem se lembrar”, ele frisa.
Se a “Amnésia Digital” pudesse ser explicada em uma única frase, seria “é a experiência de esquecer informações que estão armazenadas em algum dispositivo que você confia, sendo de fácil acesso”.
Na Teoria…
“O cérebro humano busca eficiência, então, se ele perceber que vale mais a pena saber como encontrar uma informação do que guarda-la, então, ele vai priorizar o primeiro comportamento”, deduz Betsy Sparrow, professora de Psicologia da Universidade Columbia. A pergunta que fica é: isso nos faz melhores em quê: em saber as respostas ou em encontra-las?
Bem, se pensarmos na teoria, não é tão complicado assim: já que esses números podem ser guardados no seu Smartphone por que ocupar a cabeça (memória) com essas mesmas informações? “É como o diretor que delega para a sua secretária a tarefa de lembrar seus compromissos ou com usar uma agenda de telefones para registrá-los”, explicita o neurologista.
A questão está sendo estudada também em outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, o pesquisador Adrian F. Ward, da Universidade de Austin, fala sobre a utilização desses recursos, que faz com que informações importantes sejam confiadas ao mundo digital. Para ele, há uma diferença muito grande na forma com que os dados serão acessados.
“Para achar um dado em um livro, preciso saber qual é o livro e lê-lo até achar o que preciso. É um grande trabalho: por isso, muitas vezes retemos esses dados conosco para não ter de encontra-los outra vez”. O mesmo não acontece na internet, que em apenas um clique é possível encontrar uma variedade de informações, porém, esse fácil e rápido acesso pode fazer com que o cérebro não se considere útil a gravar dados.
“São dados que ficam apenas na nossa memória de trabalho, que é rapidamente descartada. É como quando consultamos o telefone de uma loja: após discar e fazer a ligação, não precisamos mais dele”, ele sintetiza.
Somado à isso e na mesma linha de pensamento, a empresa Kaspersky realizou uma pesquisa com mais de 6 mil pessoas em países da União Europeia. A conclusão é que 57% das pessoas tentam sugerir respostas sozinhos, porém 36% fazem isso apenas com a ajuda da internet. Outros 24% admitem esquecer a informação logo após utilizá-la. Ainda que não seja justificável, é daí que nasceu o termo “Amnésia Digital”.
Conforme os especialistas, o problema maior é que as pessoas afirmam que a internet não é apenas um meio de obter informações, mas é como se fosse uma extensão online que fazem parte da nossa própria memória.
Outra neurocientista é a Kathryn Mills, da University College of London, que comenta que o Efeito Google está sendo sentido, diretamente, na sala de aula. “É difícil convencer eles [crianças e adolescentes] que eles precisam guardar um dado porque hoje a informação é uma commodity, que pode ser encontrada em qualquer lugar”. E Ward completa o pensamento dizendo que “ao resolver um problema, você relaciona informações e aí pode se conectar com elas”.
Continuando o debate, voltamos ao Brasil, na PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, onde pesquisadores comentam que usar a internet como fonte verdadeira de informações, podemos recorrer à erros gravíssimos. “Ao fazer uma prova com consulta à internet, é mais fácil o aluno encontrar uma data histórica incorreta e errar a questão”, se comparada com um livro, comenta a psicóloga Ana Luiza Mano.
Se o assunto é Mercado de Trabalho e Contratação, Maria Cândida Azevedo, diretora da People&Resuts tem poder para falar. E ela comenta que os reflexos desse comportamento também compromete o candidato que busca por uma vaga de emprego. “Apesar de ter mais informações, essa geração tem baixa profundidade na hora de elaborar suas decisões”.
Educação 3.0 – As Melhores Dicas para Estudar com a ajuda da Internet
Quando o assunto é Educação e Tecnologia as opiniões dos especialistas se dividem em duas vertentes bastante opostas. E, de fato, é muito difícil julgar o lado certo e o lado errado, se é que eles existam, nesse caso. Veja, por exemplo, o que mostram 2 pesquisas, uma da OECD (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e outra da Fundação Lemann.
Segundo a OECD, as tecnologias podem impactar a melhoria na qualidade de educação dos estudantes que já tem habilidades com a dinâmica do ensino, tais como com a leitura, escrita e com os cálculos. No entanto, para quem não tem os mesmos níveis dessas competências, o uso da tecnologia fica restrito à redes sociais e entretenimentos. A dica, mostrada pela pesquisa, é: empregar a tecnologia em sala de aula, por exemplo, não é, necessariamente, implicar em mais aprendizado para todos os alunos. Leia na Íntegra!
Informação Falsa
No ano passado, a 5ª edição do estudo Connected Consumer Index, da Gfk, classificou 78 países de 8 regiões de acordo com os níveis de conectividade de suas populações. Na América Latina, os brasileiros ficaram em 2º lugar, atrás apenas dos chilenos. No geral, o Brasil ocupou a 42ª posição. Entre os BRICS, o Brasil ficou em 1º lugar, na frente da Rússia, China e Índia.
Esse estudo sugere, segundo fontes, que o aumento no uso da internet está ligado ao interesse em implementar políticas de inclusão digital do que ao poder econômico, propriamente dito, nos países.
Ainda conforme a pesquisa, os computadores ainda são as fontes mais usadas para tal comportamento, seguido dos smartphones e, por incrível que pareça, as televisões e os wearables (roupas com conectividade) vem logo atrás, ganhando cada vez mais espaço. “Em apenas um ano, os wearables cresceram 10% e as TVs, 11%. São tecnologias novas que vão ganhar força”, disse o diretor-geral da Gfk no Brasil, Felipe Mendes.
“Este é o principal dispositivo [Smartphone] e muitas vezes o primeiro que os consumidores usam para se conectar aos serviços de transmissão de dados. É provável que esta tendência continue a imperar nos próximos 2 ou 3 anos, pois a redução dos preços significa que mais de um bilhão de consumidores poderão conectar-se usando um dispositivo pessoal pela primeira vez”.
Frente à essa pesquisa, outra, publicada pelo American Press Institute, mostrou que as informações falsas circulam 3 vezes mais do que as verdadeiras. Para concluir esse dado, os pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, analisaram cerca de 100 mil publicações no twitter.
A pesquisa aconteceu após uma notícia falsa ter complicado e assustado todo o mundo: sobre o vírus Ebola, que, então, havia sofrido mutação e poderia ser transmissível a longas distâncias. Assim, a cada 3 publicações mentirosas, 1 desmentia a informação. Outro caso foi do, então, presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que conforme informações falsas iria implementar um plano de saúde pública que iria gerar 2 milhões de desempregos. Nesse caso, há cada 9 tuites, um era verdadeiro.
3 Pensamentos para eliminar as Crenças Limitantes dos Seus Estudos
Por fim, a pesquisa definiu que as mentiras têm prazo de validade e que, apesar de um impulso inicial muito forte, elas perdem força com o tempo. Depois desse ápice inicial, a circulação correta volta á tona, alcançando a falsa. O estudo também tentou verificar a criação da falsa notícia e as respostas chegaram aos marqueteiros políticos e outros tipos de interessados, que apenas querem disseminar boatos.
Media Literacy! É a expressão usada pelo estudo para definir a importância de investir na Educação da população para que as pessoas se acostumem a checar as informações antes de passa-las adiante.
Já outra pesquisa, agora da USP (Universidade de São Paulo), feita pelo Grupo de Pesquisa em Politicas Públicas de Acesso à Informação, apontou que 3 em cada 5 reportagem mais compartilhadas por brasileiros no Facebook, durante abril do ano passado, eram falsas. O grupo, coordenado pelos professores Marcio Moretto Ribeiro e Pablo Ortellado, analisou mais de 8 mil reportagens de 117 jornais, revistas, sites e blogs. Os números foram divulgados, Clique Aqui para ver.
O Efeito Google e o Lado Positivo da Balança
“As informações estão todas à um clique, de forma que o cérebro pode fluir livremente”, afirma Claudio Martinelli, da Kaspersky, que frisa que não precisamos lembrar de todos os detalhes na hora de resolver um problema. A afirmação ainda é completada quando ele afirma que, assim, podemos liberar o cérebro para outros pontos, como a criatividade.
Mais do que isso, pesquisadores que veem esse efeito com bons olhos, dizem que ele pode ser uma derivante do aumento de informações que temos disponíveis. Assim, ele pode ser visto como uma forma que o cérebro buscou para não ficar tão sobrecarregado. Assim, se você tem um único compromisso na próxima semana, com certeza, lembrara-se dele. Mas, se forem vários, então, precisará de uma agenda. O conceito é parecido.
“O que estamos vendo é que o cérebro se comporta do mesmo jeito em relação á internet. Como ali a carga de informações é muito maior, o comportamento retratado pelo chamado efeito Google se torna padrão. Não é ruim termos tanta facilidade para obter informações, mas é importante usarmos os recursos disponíveis com equilíbrio”, afirma Betsy Sparrow.
“O ato de esquecer algo não é intrinsecamente ruim. Nós somos criaturas altamente adaptáveis e apenas não nos lembramos de tudo porque não é mais algo vantajoso. O ato de esquecer só se torna algo ruim quando envolve perder informações que nós realmente precisamos saber. Já o ato da memorização é uma habilidade e também é importante como ferramenta cognitiva para navegar neste mundo. Resumindo: ser capaz de memorizar é uma habilidade importante de se ter, mas apenas se realmente precisarmos disso”, explica o Dr. Mills.
Para equilibrar a balança com o Efeito Google, qual a melhor saída?
A resposta é simples: fazer o inverso. “Se você quer guardar informações de seu interesse, tente se engajar com as informações, fazendo resumos e escrevendo sobre o tema. Tente deixar seu smartphone em casa e, sem ele, tente se tornar dependente apenas da sua memoria, o que pode ser uma ótima opção para reter dados”, aconselha Ward.
As opções clássicas para isso são: A Leitura e os jogos, tais como o Xadrez e o Sudoku.
Além disso, pesquisas também já comprovaram que escrever à mão é muito mais vantajoso, em vários termos e inclusive para estudantes de Concursos Públicos e Enem, do que digitar no computador. O efeito de memorização é grandiosamente maior e a compreensão da ideia também.
“Nossa memoria visual e espacial é melhor que a memória de trabalho, que lida com dados. A geração Y está cada vez mais superficial. Ela quer as coisas imediatamente, não participa mais de processos em grupos e, pior, faz várias tarefas ao mesmo tempo. Mas, nosso cérebro não é preparado para ser multitarefa”, conta Alberto Dell’Isola, psicólogo.
Mas e se alguém inventasse um chip que não nos deixasse esquecer-se das coisas…?
É possível e a afirmação vem de 2012, quando cientistas argentinos decifraram mecanismos associados ao esquecimento que podem desenvolver tratamentos contra a depressão e doenças generativas, como o Alzheimer, citado no início desse artigo.
A pesquisa foi feita no Instituto Universitário do Hospital Italiano de Buenos Aires, através de um simulador do hipocampo, região que atua com a memória. O foco era desenvolver uma tecnologia que criaria, por sua vez, um chip capaz de processar a memória, conforme informações do médico Pablo Argibay, que responde também pela empresa de bioengenharia Victoria Weisz.
“Seria um chip com o potencial de fazer funções do hipocampo e que poderia ajudar as pessoas com doenças degenerativas. Há poucas áreas do cérebro que geram novos neurônios. E os neurônios criados no hipocampo ajudam a aceitar a novidade, ou seja, uma lembrança nova fica muito gravada”.
O Instituto está construindo um robô para simular tal função, o que ainda pode abrir campo para novas descobertas para evitar o esquecimento.
E Quando a Internet Recupera a Memória das Pessoas…
Essa notícia foi reportada em 2012 e contou a história do jornalista Mayank Sharma, que na época tinha 29 anos e morava na índica. Em 2010, ele teve meningite, o que afetou gravemente uma parte do cérebro relacionada à memória. Depois que voltou a usar o computador, Sharma afirmou que conseguiu restituir os fatos importantes da sua vida por meio dos seus contatos do Facebook.
Quanto à doença, foi uma caso raro. Em um dia, Sharma acordou sem nenhuma memória de seus 26 anos de vida. A meningite afetou o sistema nervoso e evoluiu para hidrocefalia. O nível de amnésia foi tanto que ele não reconhecia mais os pais, nem os irmãos. “Eu não reconhecia o próprio rosto”.
A recomposição da memória teve parte importante com o Facebook, no ícone “Pessoas que talvez você conheça”, porque ali, o indiano passou a acessar o perfil das pessoas e a perguntar: “Eu conheço você”?
“Eu tenho certeza que há muitas pessoas aqui que estudaram comigo e que não estão na minha lista de amigos. Eu gostaria de ouvir vocês… O que vocês sabem de mim”, ele publicou.
7 Efeitos do Uso Excessivo das Novas Tecnologias
Ainda falando sobre o efeito do uso excessivo das novas tecnologias e para fechar com chave de ouro esse artigo, vamos citar 7 Efeitos Negativos que podem estar afetando o seu dia a dia. Esses efeitos, chamado de doenças por muitas pessoas, costumam ser muito silenciosos e, justamente por isso, podem ser considerados muito graves. Verifique cada um desses efeitos e certifique de que você não está caindo em uma dessas armadilhas.
- Nomofobia – É a sensação que algumas pessoas têm quando estão longe do seus smarphones. É dito também como o medo de ficar desconectado dele por algum motivo. A sensação também vale para quando a bateria está no fim e não será possível recarrega-la instantaneamente. O problema foi tema do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders e já conta com programas de recuperação para os afetados.
- Síndrome do Toque Fantasma – É mais comum do que muitas pessoas pensam e é a sensação de sentir o celular vibrando no bolso da calça ou na mochila, sem que isso tenha acontecido. Para o Dr. Larry Rosen, o fenômeno ocorre em 70% dos heavy users, ou seja, usuários intensos.
- Náusea Digital – É a sensação que algumas pessoas possuem ao interagir com ambientes digitais, o que pode causar desorientação ou vertigem.
- Transtorno de Dependência da Internet – É quando a pessoa possui uma vontade compulsiva em acessar a internet, mesmo que não saiba exatamente o que vai fazer lá. É o uso irracional da internet e pode estar ligado à outros problemas como depressão, TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), entre outros.
- Depressão de Facebook – Ocorre em função de interações sociais dentro da rede. É quando você, ao visualizar tal imagem ou frase, tem a sensação de vazio. Isso acontece porque a maior parte das pessoas postam apenas “coisas boas” nas suas timelines, o que pode deixar outras pessoas frustradas.
- Vício em Jogo Online – É a compulsão por jogos online. E acontece quando existe uma necessidade irracional de participação de sessões intermináveis de jogos, inclusive, a situação é tão grave que a Associação Psiquiátrica Americana incluiu a dependência no índice III, que é comparável ao consumo de substancias químico, como o caso de viciados em jogos de azar.
- Hipocondria Digital – É a mania de doença, então, a pessoa pensa estar sempre doente. O hipocondríaco digital é a mesma coisa, sendo que ele possui o mal que está com a doença justamente porque leu sobre isso na internet.
Com informações do Estadão, TecMundo e PortalImprensa